Cascalho pelo Mundo

Bem-vindo a bordo!

Cascalho around the world

welcome to our World!

Cascalho pelo Mundo

Bem-vindo a bordo!

Cascalho pelo Mundo

Bem-vindo a bordo!

Cascalho around the World

The best blue!

Bem-vindo a bordo do Cascalho pelo Mundo

Foi logo que começamos a namorar... queríamos viver a vida mais intensamente e dar asas a uma paixão comum: viajar e conhecer os quatro cantos do mundo. E decidimos que faríamos isso a bordo de um veleiro e, mais ainda, que buscaríamos este veleiro na Itália. Com 600 euros no bolso, partimos. Durante muitos anos na Itália, trabalhamos para juntar dinheiro e depois, começamos a procurar o barco que viria a ser a nossa casa... quando encontramos o Cascalho, não tivemos dúvidas... era ele !!! Tínhamos encontrado a nossa casa. Não precisávamos mais sonhar esta parte. A partir daí, foi só viver o sonho, dar ao nosso barco-casa a nossa cara e com ele viver a vela pelos quatro cantos do mundo. Exatamente como tínhamos sonhado...

Momentos...

Café com poesia...
♫ Wave - Marjorie Estiano 

Ilha Bela... a Capital Brasileira da Vela.



















05 de maio de 2013
Latitude 23°46'17"S e Longitude 45°21'19"W
18:30h
Estamos na bela Ilha Bela... que alegria! Tentamos uma bóia numa marina, mas porque era domingo final de tarde e porque não tínhamos reservado, não nos foi permitido. Vamos pra âncora! Devido a sua posição geográfica e os ventos que sopram abundantemente no Canal de São Sebastião, a ilha é famosa pela navegação a vela. Tanto que é considerada a Capital Brasileira da Vela. A previsão do tempo nos dizia que, durante a noite uma frente vinda do Sul, traria ventos de 25 a 28 nós. Então, abusamos na corrente! Dito e feito... lá pelas duas da manhã o vento começou a entrar e, soprava cada vez mais forte. Não demorou pra coisa ficar preta: na escuridão da madrugada, os ventos assoviavam, com rajadas de até 48 nós, muita chuva e mar grosso. Muitos barcos arrastaram, inclusive o Cascalho. Vimos vários barcos passando por nós e indo parar na praia. Ficamos com medo de soltar mais corrente, pois já estávamos muito próximos dos cabos submarinos. Tentamos levantar âncora, mas ela estava presa em algo e não conseguimos. Estávamos no fim da fila e, os barcos que se soltavam vinham em nossa direção. Então, ligamos os dois motores, conseguimos nos afastar e nos livramos daquele perigo. Permanecemos assim, por cerca de 3:30h, com os motores engatados a frente, mais ou menos giros de acordo com a força do vento. O dia já tinha amanhecido quando as coisas se acalmaram um pouco. Levantamos a âncora que estava presa em cabos de rede. Foi difícil e muito trabalhoso. Enfim livres, nos dirigimos para o Norte da ilha. Foi só virar a ponta e estávamos no paraíso, quase nada de vento e mar muito calmo. Ancoramos e, exaustos, fomos dormir.

Acordamos já no meio da tarde e, como tudo tinha se acalmado, resolvemos voltar para o centrinho da cidade. No caminho, cruzamos com dois gigante: primeiro, o catamarã Picolé, do Beto Pandiani, que ja fez miséria pelos mares do mundo; depois, o Paratti 2 do Amir Klink, que já fez miséria pelos mares gelados da Antárctica. Somos fãs dos dois! Decidimos ficar no Iate Clube de Ilha Bela e fomos muitíssimo bem tratados. Bem diferente da outra marina que nos negou uma bóia. Ali, ficamos sabendo que os estragos foram grandes. Cinco embarcações foram parar na praia durante a madrugada. Até o Paratii 2 arrastou, com poita e tudo. É, a coisa foi grande.

Tínhamos apenas dois dias para curtir a ilha, que nesta época do ano estava bem vazia. Como já conhecíamos bem suas praias - mais de quarenta, trilhas - em meia a exuberante Mata Atlântica  e cachoeiras - mais de trezentas, desta vez decidimos ficar no centrinho e curtir a cidade antiga, elegantemente chamada de vila. Um sem número de bares, lojas, sorveterias e cafés deixam o centrinho pra lá de charmoso e atraente. E, a medida que a noite vai caindo, o burburinho vai aumentando e os espaços vão ficando cada vez mais concorridos. Os inúmeros ateliês espalhados pela cidade, de artistas e artesãos nativos e também dos que vieram de terras distantes e escolheram este lugar para morar, proporcionam uma variedade incrível de opções de compra... decoração, moda. Além disso, a vila é cheia de cantinhos para serem descobertos. O nosso preferido é o Café das Letras, onde passamos horas deliciosas, saboreando um maravilhoso café e lendo. Um lugar especial, aqui não tem internet. O objetivo é estimular a leitura através dos bons e velhos livros. Brilhante.
Ilha Bela, também conhecida como Ilha de São Sebastião, é a maior ilha marítima do Brasil, é famosa pela prática de esportes náuticos, em especial a vela. Bons ventos costumam soprar no Canal de São Sebastião. Em julho acontece por aqui a Semana Internacional de Vela, que reúne um grande número de velejadores de todo o país. É o maior evento do gênero realizado na América Latina. Aqui que está a maior concentração de veleiros do Brasil. Mastros por todos os lados. Sempre muito bom estar por aqui.

Momentos...

Antes da tempestade...
♫ Por você - Frejat 

Da Ilha do Mel até a Ilha Bela

Sol nascendo...

Lua se pondo... perfeita hora para içar as velas.

Com os primeiros raios do sol, nos despedimos da Ilha do Mel.

Lar doce lar... tudo pronto!

Partimos!!!

Em rota para a Ilha Bela.

Nunca estamos sozinhos!

Vibração no motor... o capitão foi checar. Tudo certo.

E a linha permaneceu na água até o por do sol. O mar já não é mais o mesmo!

Través com a Ilha de Alcatrazes... dia completamente diferente de ontem.

Ufa... finalmente a Ilha Bela e o Canal de São Sebastião.

Por aqui também, muitos navios. Que navegação! Ainda bem que chegamos!
 
04 de maio de 2013
Latitude 25°30'41"S e Longitude 048°18'45"W
06:15h
 
Nosso meta de hoje: chegar até Ilha Bela, no litoral Norte de São Paulo até o final da tarde de amanhã. Cerca de 295 milhas náuticas nos separam dela. Mares já conhecidos, mas que nunca são iguais. Acordamos com os primeiros raios do sol, preparamos tudo, levantamos a âncora, içamos as velas e partimos. Eram 07:15h. O vento, que soprava calmo, era tão favorável, que os motores não foram ligados nem para as manobras iniciais. 10,6 nós de vento e 4,5 nós de velocidade... tranquilamente navegamos por entre os bancos de areia e, pouco mais de uma hora depois, já deixávamos o Canal Norte da imensa Baía de Paranaguá. A todo pano, com proa em 60° e o Cascalho deslizando elegantemente sobre as águas. Linha na água... quem sabe tenhamos um peixe fresco para o almoço. Estamos confiantes: muitos cardumes ao nosso redor e a superfície fervilhando de peixinhos fugindo dos peixões. A carretilha dispara, pega a máquina fotográfica (importantíssimo), diminue  a velocidade do barco, aquela correria... mas o peixe, consegue se soltar. Continuamos confiantes. Milhares de peixes ao nosso redor. Outro peixe morde a isca, aquela correria de novo, agora vai... e o peixe, logo escapa. Não estamos com sorte hoje. Talvez estejamos precisando de novas iscas. Nada de peixe fresco para o almoço.
 
A tarde o vento zerou e tivemos que motorar por várias horas. Entretanto, por volta das 16:00h, 18 nós soprando de SE, mais as ondas oceânicas faziam o Cascalho deslizar a 8 gostosos nós. Felicidade geral! Que durou pouco! Durante a noite o mar engrossou e o vento enlouqueceu indo de 0 a 20 nós em questão de pouco tempo. Pelo menos, continuava sendo favorável.
 
O dia seguinte amanheceu com céu e mar muito feios. 25 nós de vento, vela rizada e mar mexido, com ondas de 2 a 3 metros, muito desencontradas. O pior ainda esta por vir: o vento rondou para Leste, praticamente na cara e, o mar, que já não estava pra peixe, ficou ainda pior. Navegar assim, não é nada bom. Ligamos então os dois motores e, nos movendo a 6,5 nós, conseguimos ancorar em Ilha Bela as 18:15h. Ainda tinha um pouco de luz do dia. Ufa... melhor assim!
 
Já estou ficando com trauma de Ilha Bela. Toda aproximação é assim. Que Cabo São Tomé que nada!
 
Mas o pior, ainda estava por vir!!!

Momentos...

Pura poesia!!!
♫ Tudo diferente - Mria Gadú 

Ilha do Mel - Paraná

Bem vindos...

...à Ilha do Mel!

O único meio de transporte por aqui, além dos seus próprios pés.

A passarela que leva a Gruta das Envantadas.

A gruta da lenda das sereias que encantam!

A moda antiga!

A arte de consertar as redes de pesca.

Lá em cima o Farol das Conchas.

Feito com muito esmero!

Istmo em Nova Brasília.

Trocando de ancoragem... muitos botos nadando por aqui.

Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres...

...seus canhções...
(e olha o Cascalho ancorado na Praia de Fortaleza!)

...e seus personagens: Mico da Ilha do Mel e Fábio Machado.
"Da mesma forma que a Fortaleza tem a sua história, cada uma das pessoas que por aqui passa também tem uma"!!!

Por do Sol para a despedida.
 
01 de Maio de 2013
Latitude 25°34'55"S e Longitude 048°18'52"W
13:25h
 
Navegar pelo mundo exige que uma certa dose de aventura faça parte do seu estilo de vida. Vir para a Ilha do Mel, faz com que essa dose de aventura seja ainda maior. Localizada na Baía de Paranaguá, município ao qual pertence, no estado do Paraná, suas praias são consideradas as mais belas do estado.  São 35 quilômetros de praia, a sua escolha: desertas, tranquilas, com bastante agito...  Aqui, não existem carros nem taxis, circulam pelas suas avenidas estreitas, feitas simplesmente de areia, apenas nossos próprios pés e algumas poucas rodas dos carinhos dos transportadores de malas. Pelo caminho, tudo cuidado com muito esmero, desde a casa dos moradores locais, até o que é preparado para esperar os turistas, como bares, restaurantes e pousadas. Aliás, o número de turistas na ilha é limitado a cinco mil por dia e, animais trazidos de fora não são permitidos por aqui. Tudo para preservar o equilíbrio do ecossistema local. Equilíbrio que, de certa forma, já foi a muito afetado. Antiga colônia de pescadores, a ilha foi descoberta pelos hippies na década de 70. Nos anos 80 chegaram os mochileiros e, hoje, a principal atividade na ilha é o turismo. Pescadores, são muito poucos.
 
A maior parte da ilha é reserva ambiental. Entretanto a menor, aquela na qual é permitido circular é, sem dúvida, a melhor parte. De mochila nas costas, com muita água, protetor solar, repelente para insetos e uma lanterna para caminhar a noite, já que os geradores de energia elétrica são desligados após uma certa hora, começamos a explorar a ilha.
 
Ancoramos o Cascalho na Praia das Encantadas. A vila é extremamente charmosa e o povo local simpático e hospitaleiro. A sensação que se tem é de que o tempo parou por aqui. E pelo caminho, tesouros e mais tesouros... Vamos seguindo pelas ruelinhas de areia até chegar a uma passarela que nos conduz a Praia de Fora das Encantadas onde, a famosa Gruta das Encantadas encanta a vida das pessoas com as suas lendas de sereia. Lindas sereias ficavam presas ali pela força das ondas e, quando conseguiam sair, possuídas, cantavam suaves cantigas, encantando os viajantes, especialmente os homens, que nunca mais voltavam para casa. 
 
Com o Cascalhinho, fizemos o passeio até outro dos cinco vilarejos da ilha, Brasília ou Nova Brasília. Aqui está o Istmo, a parte mais estreita da ilha, que em épocas de grandes ressacas, fica todo encoberto, dividindo uma ilha em duas.  O cenário lúdico se repete por aqui também, quase que enfeitiçando quem passa. Sempre caminhando fomos seguindo a trilha que leva a outro cartão postal: o Farol das Conchas, construído em 1870, localizado no Morro da Concha. Encarar a escadaria de 150 degraus e mais todas as rampas que conduzem até o topo vale o esforço. O farol não está aberto para visitação interna, mas o visual lá de cima é desconcertante, toda a ilha fica ao alcance dos nossos olhos. 
 
Por fim, visitamos o Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, erguido em 1767, nas areias da Praia de Fortaleza, com o objetivo de proteger a Bacia de Paranaguá e o seu porto. A beira mar, bem conservado, com canhões dos séculos 18 e 19 e, o melhor de tudo, duas figuras que jamais esqueceremos, com quem passamos horas super agradáveis, ouvindo muitas estórias e rindo muito.
 
O entardecer nos presenteou com um por do sol estonteante, que marcou a nossa despedida da Ilha do Mel, um lugar paradisíaco de onde levaremos muitas e excelentes lembranças. Amanhã bem cedinho, partiremos para o nosso próximo destino!

Momentos...

Quando eu contar ´iaia´ você vai se pasmar!

Ilha do Mel... aí vamos nós!


Flores com cheirinho de mel... oferenda para a Rainha dos Mares!

1, 2, 3, 4, 5...

Um barquimho na proa do barcão...

...viu!!!

Nada de peixe!

Logo ali... mas no meio do caminho tinha uma rede!

Quase chegando...

Depois do morro...

...encantados com Encantados!

Hora de baixar as velas... chegamos!

30 de abril de 2013
Latitude 26°47'35"S e Longitude 048°36'30"
19:10h
 
Ufa!!! Quando conseguimos levantar âncora, a lua minguante já estava alta no céu e timidamente clareava nosso caminho. 59° de proa, ventos soprando entre 12 e 15 nós, entrando pelo quadrante Leste/Sueste e ondas com cerca de 2,5 metros. Nada mal. Nos deslocávamos a 5,5 nós e apenas 70,5 mn nos separavam da entrada do Canal de Paranaguá. Impossível para nós reconhecer no escuro, mas sabíamos que todas as embarcações de pesca ao largo de Armação nos reconheciam. Era o Cascalho deixando o porto. Todo cuidado era pouco. Contamos mais de 20 embarcações, a maioria arrastando camarão. Lembrarmos do Ernerto, pai do Luiz, e do Nestinho, o irmão, nosso último abraço na Prainha do Cascalho.
 
A noite foi tensa. Além do tráfego das embarcações de pesca com suas redes mal ou nada sinalizadas, gigantes de carga também estavam espalhados na maior parte do caminho. Em 70 milhas mn estão três importantes portos brasileiros: São Francisco do Sul, Itapoá e Paranaguá. Olhos bem abertos a noite toda. Fizemos a divisão dos turnos e tudo correu bem. O dia amanheceu muito nublado e, o cenário continuava exatamente o mesmo.
 
Por volta das 10 horas da manhã do dia seguinte, o vento zerou. Tivemos que continuar só no motor. As 11:30h, cercados por navios de carga por todos os lados, entramos no Canal de Paranaguá. Exatamente 2 horas depois, ancoramos na Praia dos Encantados.

Interessante contar que foi aqui, nesta baía, que uma das maiores páginas da náutica mundial foi escrita. Em Guaraqueçaba, viveu por algum tempo Joshua Slocum, famoso navegador norte-americano. Depois de perder sua embarcação nos bancos de areia da baía, foi morar numa cabana na beira da praia, com a sua esposa e dois filhos. Sem dinheiro e com apenas três ou quatro ferramentas que salvara do naufrágio, adentrou a Mata Atlântica, escolheu as melhores madeiras e construiu um barco de 35 pés, baseando-se nas canoas brasileiras que ele tanto admirava. Em 13 de maio de 1888, dia da Abolição da Escravatura no Brasil, o barco com velas de fácil manuseio, foi batizado de ´Liberdade´ e colocado na água. 55 dias e depois de ter navegado mais de 5 mil milhas, chegaram a Washington, sua terra natal. Esse mesmo navegador, alguns anos depois a bordo do Spray, tornou-se o primeiro homem a dar a volta ao mundo em solitário num veleiro. Escreveu o seu capítulo e imortalizou a sua história no livro Sozinho ao redor do mundo. Anos mais tarde, desapareceu no mar.
 
Agora é só desembarcar e curtir mais este pedacinho de paraíso.