Cascalho pelo Mundo

Bem-vindo a bordo!

Cascalho around the world

welcome to our World!

Cascalho pelo Mundo

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Cascalho pelo Mundo

Bem-vindo a bordo!

Cascalho around the World

The best blue!

Bem-vindo a bordo do Cascalho pelo Mundo

Foi logo que começamos a namorar... queríamos viver a vida mais intensamente e dar asas a uma paixão comum: viajar e conhecer os quatro cantos do mundo. E decidimos que faríamos isso a bordo de um veleiro e, mais ainda, que buscaríamos este veleiro na Itália. Com 600 euros no bolso, partimos. Durante muitos anos na Itália, trabalhamos para juntar dinheiro e depois, começamos a procurar o barco que viria a ser a nossa casa... quando encontramos o Cascalho, não tivemos dúvidas... era ele !!! Tínhamos encontrado a nossa casa. Não precisávamos mais sonhar esta parte. A partir daí, foi só viver o sonho, dar ao nosso barco-casa a nossa cara e com ele viver a vela pelos quatro cantos do mundo. Exatamente como tínhamos sonhado...

Momentos...

4.000 milhas náuticas navegadas !!!
 93 Million Miles - Jason Mraz  

Velejando de Noronha a Natal, Brasil !!!

O Morro do Pico...
...e os Dois Irmãos...
...iluminados por mais um nascer do sol. Despedida !!!
A Enseada do portão.
Noronha foi ficando para trás...
Surpresa... olha o azul desse mar. Golfinhos lindos.
Muitas embarcações pelo caminho, ainda muito longe da costa.
E finalmente, temos Natal na nossa proa !!! Viva !!!
Salve salve simpatia !!!
A tripulação: comandante e comandada !!!
Alessandra e Giorgio, grandes companheiros.
Loriana e Luigi. Grazie Luigi. Sei mio papà del mare !!!
A ponte...
A barra...
E o Atlântico aberto ficou para trás...
Colorido as margens do Rio Potengi.
Rio de praia.
Iate Clube do Natal... quanto é bom estar aqui !!!

16 de dezembro de 2012
Latitude 03°50'01"S e Longitude 032°24'15"W
6:00h

Último pedacinho de mar antes de chegar de verdade em terra firme.O Cascalho deslizando confiante sobre as águas nos demonstrava que, assim como nós, ele também já se considerava no quintal de casa. Tudo em perfeita sintonia, sugerindo praticamente um empate entre homem e natureza. Quase inapropriado dizer isto em meio a beleza selvagem e caleidoscópica daquela paisagem, mas perfeitamente domável quando se sabe respeitar, ler e ouvir o mar. 

Levantamos âncora e partimos de Noronha muito cedo, apenas o dia tinha começado a clarear... depois do rumo acertado, olhos a bombordo: muitos bandos de golfinhos, Conceição, Boldró, Cacimba do Padre, as Baías dos Porcos, do Sancho e dos Golfinhos, a Enseada do Portão...uma a uma iam ficando para trás. O sol nascente dava a tudo brilho e cor especial. E assim deixamos Noronha. Saindo do embate da ilha, as ondas longas do Atlântico nos levavam suavemente em direção a Natal: mar, corrente e vento a favor. Céu e mar muito azuis. 194 milhas náuticas a serem percorridas, muita ansiedade e muita, muita saudade de casa. A bordo, clima de descontração e já de despedida dos amigos italianos, que deixariam o barco em Natal e, seguiriam a viagem por terra, sedentos por conhecer o Brasil.

Navegamos muito tranquilamente, sempre a toda vela, mestra e genoa. O vento se manteve constante, nos fazendo percorrer uma média de 6 mn por hora. Perfeito. Após 24 horas de navegação, nós dois fazendo turno, já dia claro, recebemos a visita de muitos golfinhos. Eles brincaram conosco e com o Cascalho por aproximadamente 45 minutos, saudando ambas as chegadas, de um novo dia e em Natal. Viva !!! Ao nascer do sol, eles eram dourados. Não concordamos de maneira nenhuma, que alguns golfinhos se afastam e vem até o barco para desviar  a atenção do restante do bando. Eles são alegres, divertidos, nos olham nos olhos e, quando sentem que estão agradando, exibicionistas que são, aumentam a velocidade, giram, pulam e dançam ainda mais. Se alegram com a nossa alegria. Tão subitamente quanto aparecem, vão embora deixando a nossa existência ainda mais repleta de alegria.

Durante o café da manha, sentimos que o balanço do barco estava diferente e começamos a ouvir as velas panejarem. O vento tinha desaparecido. Recolhemos a genoa, colocamos a mestra no centro e, infelizmente, tivemos que motorar por aproximadamente 6 horas até atracarmos em Natal. 

Por volta das 10 horas da manha, começamos a observar no horizonte a nossa frente, uma silhueta diferente. Depois de muitas suposições...eureka !!!, o binóculo nos mostrou ser a silhueta dos prédios enormes de Natal, que já se mostravam visíveis. O tráfego no mar também aumentou muito: muitas embarcações, geralmente pequenas, que iam e vinham num ritmo mais frenético, típico de quando se esta vizinho a costa e onde há maior atividade pesqueira. 

Aos poucos, tudo foi tomando forma. Os prédios cada vez maiores e em maior número, as cores cada vez mais vibrantes, a ponte, o rio, a barra, as bóias... Chegamos ao Iate Clube do Natal. 194 milhas náuticas percorridas em 31:30h. A menor, mas ao mesmo tempo, a maior distância percorrida até aqui.

Momentos...

#Buscando a mais bela foto#Noronha#Fernando de#
 Papel Machê - João Bosco 

Paraíso... Fernando de Noronha

Bom dia, Brasil... Bom dia, Fernando de Noronha !!!
Morro do Pico, a boreste....
...e sol nascendo a bombordo do Cascalho !!!
Saudades !!!
Quanto mais praia, melhor !!!
Boldró, o paraíso dos surfistas em Noronha.
Mais Boldró...
Feliz feliz...vamos lá !!!
Um ângulo mais belo do que o outro...
Baía do Sueste. 
Mergulho em águas do Brasil.... orgulho !!!
Praia de Santo Antônio.
Os Dois Irmãos.
A igrejinha da vila... Nossa Senhora dos Remédios.
Interior da igrejinha, com a estátua milagrosa no altar.
O Forte de Nossa Senhora dos Remédios, visto de dentro da igrejinha.
As armas vindas dos fortes.
No alto do morro...Igrejinha de São Pedro.
Visitamos a sede do projeto Tamar na ilha. Show !!!
Delícia móvel... a melhor cocada !!!
Cartão postal...
Navio escola canadense ancorado nas águas da baía.
Luz...
Cor...
Paz.. sol e lua !!!

16 de dezembro de 2012
Latitude 03°50'01"S e Longitude 032°24'15"W
1:15h

Em terras brasileiras !!! Quanta emoção. Quanta alegria. Quanto orgulho... nós conseguimos !!! Depois de tantos dias no mar, depois de ter vencido o Atlântico gigante... sonhamos a nossa vida e agora estamos vivendo os nossos sonhos. O sol que nos acorda e acompanha todos os dias nos dando luz, a água dos mares que nos carrega através dos oceanos, o oceano, a vida marinha, os luares e cada magnífico por do sol... a vida num caleidoscópio... é pura mágica !!! Tudo isto nos conduziu a este paraíso: o Arquipélago de Fernando de Noronha.

O arquipélago é formado por vinte e uma ilhas, numa extensão de 26 km², tendo uma principal e única habitada, também chamada Fernando de Noronha. A ilha principal tem cerca de 17 km², 10 km de comprimento e 3,5 km de largura máxima. É acidentada, com diversas elevações, destacando-se o Morro do Pico que, com seus 323 metros de altura, domina o horizonte da ilha. É também nesta ilha que encontramos a Vila dos Remédios, com sua igrejinha linda, cuja construção foi iniciada em 1737, sendo inaugurada apenas em 1772, e os vários fortes construídos para defender o território dos seus diversos invasores ao longo de toda a historia, desde o descobrimento pelos portugueses ainda no século XVI, passando por franceses, holandeses e ingleses. Foram dez fortes, a maioria deles ainda em pé até os nossos dias. Durante muito tempo serviu também como local de detenção, muitos presos eram enviados para o presídio ali existente para cumprir pena, especialmente as mais longas. Por último, passou a fazer parte do território de Pernambuco e hoje é um dos mais importantes paraísos turísticos e ecológicos do Brasil. É considerado pela Unesco um Sítio do Patrimônio Mundial Natural.

Parte da ilha principal esta incluída no Parque Nacional Marinho e muitos locais são Áreas de Proteção Ambiental, terra e mar. De um lado da ilha, está o Brasil. Este é o mar de dentro, com 10 praias, duas baías de uma beleza quase indescritível; uma especial, onde não se pode entrar: a Baía dos Golfinhos. Um mar tranquilo a maior parte do ano, protegido dos ventos, permitindo o acesso de uma praia a outra, em passeios cheios de beleza e aventura. Do outro, a África. É o mar de fora, com quatro praias, uma enseada, duas áreas de contemplação e um conjunto de piscinas nas rochas. Um mar agitado, acalmado um pouco em alguns pontos pelos arrecifes que retêm o mar entre as pedras. Esguichos, áreas enormes repletas de peixes coloridos, como imensos aquários, prontos para serem desfrutados.

Ao redor dessa ilha maior, outras pequenas ilhas, rochedos e ilhotas, todas de origem vulcânica, compõe o cenário decantado por estudiosos e trovadores. São as ilhas secundárias, cerca de vinte e uma. Todas estas ilhas um dia estiveram ligadas, formando um só bloco, separado ao longo de milhões de anos devido a erosão marinha.

Ancoramos na Baía de Santo Antônio, único ponto de ancoragem da ilha, a 1:15h da noite. Tínhamos ainda algumas boas horas de sono pela frente até o amanhecer. Combinamos, com antecedência, que o café da manhã seria em terra. Não foi bem assim... a noite foi mal dormida e chegamos a conclusão de que a causa eram as águas muito abrigadas, faltava o balanço do mar. Mal o dia clareou e estávamos todos no convés, ma-ra-vi-lha-dos: estávamos realmente dentro daquele cenário. O sol nascendo, colorindo tudo de uma forma mágica, o Morro do Pico, os Dois Irmãos  e muitos, muitos golfinhos rotadores que rodeavam o nosso barco e nos davam boas vindas com o seu espetáculo. De bote e com todos os documentos em mãos, rumamos para a terra ainda rodeados de golfinhos. Poderíamos até tocá-los com as nossas mãos. Mas, atenção: isto é terminantemente proibido. Em terra, os primeiros passos foram difíceis, vacilantes, como se estivéssemos bêbados. Chegamos a precisar de ajuda para não cair. Mal de terra forte mesmo. Somos muito privilegiados por estarmos aqui, pouquíssimas pessoas residem nesta ilha, o número de carros, aqui só buguis, é controlado e, apenas 450 turistas são permitidos na ilha todos os dias.

Fomos muito bem recebidos e atendidos pelas autoridades brasileiras, assim como por todo o povo da ilha. Com tudo resolvido e, em função do fuso horário ainda alterado, decidimos deixar o café da manhã de lado e seguir direto para o almoço. Assim, teríamos mais tempo para aproveitar o nosso pouco tempo na ilha... Depois de um almoço delicioso e caipirinhas nota dez, começamos o tour pela ilha. Na Praia do Boldró, o primeiro mergulho. Antes dele, ainda no alto da escarpa, das ruínas do Forte de São Pedro do Boldró, ficamos extasiados com tanta beleza: o som e a cor do mar, o vai e vem das águas, a cor da areia. Descendo encontramos  as belas piscinas naturais de água cristalina, com sua rica fauna marinha. O snorkel aqui é fundamental. O tempo passou depressa, a maré foi subindo e, quando as belas ondas foram chegando, começamos a entender porque o Boldró disputa a preferência dos surfistas com a Cacimba. A Praia da Conceição, aos pés do Morro do Pico, é muito boa para caminhadas e tem o bar de praia mais bacana da ilha, o Duda Reis. No dia seguinte, fomos cedinho para a Baía do Sueste, do outro lado da ilha, uma bela enseada com uma faixa de areia larga, ilhotas frontais e águas muito calmas, ideais para mergulho com muitas e grandes! tartarugas marinhas. Neste dia, o Projeto Tamar estava devolvendo para o mar centenas de tartarugas adultas chipadas para monitorar o percurso das mesmas, saber por onde andam. Vimos muitas tartarugas, o que tornou esta visita um passeio inesquecível. Para chegar lá, usamos a BR-363, a única do Brasil não ligada a nenhuma outra. 

A visita ao centrinho da cidade, a Vila dos Remédios, nos reportou a um outro tempo: as ladeiras com sua pavimentação característica , as construções ainda em estilo antigo, a igrejinha de quase 300 anos e o forte de Nossa Senhora dos Remédios. Tudo muito encantador. Depois do almoço, preparar o barco e finalizar a documentação para a partida na manhã seguinte. Depois de tudo pronto, da Praia do Porto, outra pequena praia de águas calmas, onde o espaço na areia é dividido com embarcações em manutenção e, na água,a esquerda perto da orla, com um navio grego afundado, ainda presenciamos mais um maravilhoso por do sol. Na cabeça, uma certeza: nosso sonho era de verdade. Neste momento, agradecemos aos céus, aos mares e a terra a inspiração que nos deram para viver assim, livremente. Outra certeza: a de que voltaremos aqui, um dia, com muito tempo. Afinal, é neste pedaço de paraíso que estão algumas das mais belas praias do Brasil - Baía dos Porcos, Baía do Sancho, Praia do Leão, Baía dos Golfinhos... e, pontos de mergulho na lista dos melhores do mundo.

Momentos...

Águas calmas no Porto de Santo Antônio, em Noronha.
Depois de quase 11 dias no mar, ancoramos por aqui...
 Paradise - Cold Play 

Cruzando o Oceano Atlântico

6 de dezembro de 2012, 7:00h da manhã....
...deixamos a Ilha do Sal ao amanhacer.
Baixa genoa, iça gennaker... para aproveitar melhor a brisa !!!
Esporte mais praticado, depois de velejar, é claro !!!
Micro peixe dourado.
Nove pássaros brancos... companheiros de viagem.
Ao fundo, ao longe, sob a névoa, o contorno da Ilha do Fogo.
Segundo por do sol da travessia.
Campeonato de canastra: homens x mulheres.
Renascido de uma gaiúta...
Amanhecer.
Rota 217°, vento 15 nós, velocidade 7,5 nós.
Adivinha o que temos para o almoço? Um belo atum...
Quatro dias depois... não somos os únicos por aqui !!!
As ondas longas nos fazem sentir como se estivéssemos voando !!!
Lugar preferido....
...para assistir ao espetáculo do sol se pondo todos os dias !!!
12/12/12: dia do fim do mundo !!! Primeira e única avaria de toda a viagem !!!
Tempestade chegando...
Chuva....
Ajustando velas a espera do "squall".
Divisões... céu e mar, chuva e sol !!!
Geladeira no mar... talvez estivesse cheinha de cerveja gelada !!!
Linha do Equador... comemoração e oferendas a Netuno...
...Veuve Clicquot ...
... e deliciosa crostata italiana.
Falta pouco agora.
E o gigante ficou para trás !!!
06 de dezembro de 2012
Latitude 16°45'18"N e Longitude 022°58'46"W
16:30h


Oceano Atlântico... um verdadeiro gigante !!! Desde que decidimos viver esta aventura, sabíamos que poderíamos levar a nossa casa e sermos levados por ela para os lugares mais lindos, exóticos e inspiradores, conheceríamos um sem número de pessoas interessantes, faríamos contato com muitas culturas diversas e, acima de tudo, carregaríamos todas estas emoções dentro de nós mesmos em um modo que só quem as vive sabe explicar ou descrever. Mal poderíamos imaginar que, menos de um mês depois de termos iniciado a viagem, já teríamos vivido, visto e sentido mais coisas do que o fazem um grande número de pessoas durante toda a sua vida. E a nossa aventura, mal tinha começado. Estávamos agora prestes a enfrentar mais um grande desafio... a travessia do Oceano Atlântico !!! Saindo de Cabo Verde, da Ilha do Sal, seguiríamos em rota direta para o Arquipélago de Fernando de Noronha... 1.340 mn nos separavam naquele momento da nossa terra, do nosso Brasil. Para nós, a travessia significava muito mais, significava chegar em casa e podermos dizer "estamos no Brasil... chegamos" !!!

Nos preparamos muito bem, agora tinha chegado a hora de levantar âncora, içar as velas e partir... o Oceano Atlântico se formou  a mais ou menos 200 milhões de anos, separa a África e a Europa que estão a leste das Américas que estão a oeste. Tem a forma de um 's', extensão de 16.000 quilômetros, profundidade média de 3.000 metros, emerge em alguns pontos formando ilhas como os Açores e está em constante modificação. As Ilhas Surtsey se formaram apenas em 1963 e, desde que Colombo descobriu as Américas, este continente já se afastou da Europa mais de 20 metros. É o segundo maior oceano do mundo e ocupa um quinto da superfície terrestre. Seu nome provém da mitologia grega, Atlas. A lenda nos diz que Atlas é um dos titãs gregos, capaz de personificar as forças da natureza causando caos. Os titãs atacaram os deuses do Olimpo, mas Zeus, líder espiritual dos homens e dos deuses, triunfante, castigou-os, condenando Atlas a carregar o peso do mundo e dos céus nas suas costas. Atlas é considerado o Senhor das águas distantes, razão pela qual o oceano além do Mediterrâneo recebeu o seu nome.

Então, a emoção começa agora... a travessia começa agora !!! Partimos cedinho, deixando a Ilha do Sal para trás, as 7:00h da manhã. Não sabemos se um dia retornaremos para cá. Porém, a alegria, a simplicidade e a recepcção calorosa com que esse povo nos recebeu, permanecerão para sempre na nossa lembrança. Ainda dentro da baía de Palmeira, içamos as velas... a todo pano. Mas o vento soprava fraco nesta hora e logo, substituímos a genoa pela charmosa gennaker vermelha. Assim, conseguíamos aproveitar melhor o ventinho. O mar estava tranquilo  e tínhamos as ondas longas do Atlântico a nosso favor. O trabalho de pescaria em equipe nos rendeu um minúsculo dourado, que os homens gentilmente cederam as mulheres para o almoço. A tarde, já com vento um pouco mais abundante, voltamos a usar a genoa. Recebemos a visita de nove pássaros branquinhos que estiveram conosco, melhor, ao nosso redor, por muito tempo. Esperávamos nestas primeiras 24 horas uma navegação bem mais movimentada, pois navegaríamos em meio as ilhas do arquipélago. Estávamos enganados. Tudo foi muito tranquilo. Já na manhã do dia seguinte, tínhamos a nosso boreste a Ilha do Fogo, uma das dez e a mais alta de Cabo Verde em virtude do vulcão, ainda ativo, de quase 3.000 metros de altura. E assim, dissemos adeus a Cabo Verde. Outro dia de navegação tranquila chegou ao fim, nos presenteando com mais um por do sol maravilhoso. Mais uma vez a gennaker nos ajudou a velejar mais rápido, em virtude dos ventos fracos. A calmaria se manteve no dia seguinte: pouco vento mas sempre a favor, assim como as belas ondas do mar. Nenhum sinal de civilização por estes mares, parece que somos os únicos por aqui. Bom para a tripulação, que aproveita para ler, rir, descansar, conversar, jogar... enquanto o lobo mau não vem.

Desta mesma forma seguiram-se os próximos dias... ventos de maior ou menor intensidade mas sempre favoráveis e com mares tranquilos. Netuno estava sendo muito generoso conosco, assim como Eolo, pois seguíamos sempre a vela, nada de motor nesta etapa. No quinto dia da travessia, conseguimos um belo peixe e, apenas no sexto dia é que encontramos outra embarcação... sim, existiam outras vidas transitando por estas águas além de nós e dos tantos peixes voadores que encontrávamos espalhados pelo barco todas as manhãs. A proa passou a ser o lugar preferido no barco, era de lá que admirávamos o espetáculo do sol se pondo a cada dia. Sempre único !!!

O sétimo dia da travessia mostrou ser o mais estressante... ainda de madrugada, antes mesmo de o dia clarear, meu capitão que estava fazendo o seu turno de navegação noturna, percebeu um problema no topo da vela mestra: estava solta, definitivamente alguma coisa tinha acontecido e a vela foi baixada. Por segurança, os motores foram ligados neste momento. Ao amanhecer, inspeção na vela para detectar o problema: o carrinho que fixa o punho da adriça ao mastro tinha se rompido. Várias conferências e nada, não tinha o que fazer. Teríamos que esperar chegar em terra para substituir a peça quebrada. O importante é que poderíamos continuar navegando e usando a vela grande, deixando sempre a adriça bem tensa. Depois da tradicional "sesta" vespertina, mais uma surpresa: os ventos alísios que agora sopravam como deviam, constantes, trouxeram consigo a primeira linha de instabilidade ou squall... em pouco tempo nuvens negras apareceram, a velocidade do vento aumentou muito e a possibilidade de que esta água caísse toda sobre nós também. Tudo acontece muito rápido, mas como vem, vai embora. Rapidamente, diminuímos as velas, fechamos todos as gaiútas e, em segurança, esperamos a trovoada passar. Que dia !!! Só então nos demos conta de que era 12/12/12... o dia em que o mundo deveria acabar. Será? O fato de que não vimos nem um sinal de civilização, aumentou as nossas suspeitas de que éramos a partir dali, os únicos seres humanos remanescente sobre a face terra !!!


Seguimos a rota traçada inicialmente: em linha reta para o Arquipélago de Fernando de Noronha. Desta forma, seguindo as estatísticas e as previsões meteo, teríamos sempre vento e corrente a favor, mar tranquilo com suas ondas longas e atravessaríamos a zona de convergência intertropical na sua faixa mais estreita neste período. Esta região está sempre perto da Linha do Equador, varia ao longo do ano e, é a região onde os ventos vindos de norte e sul se encontram. Geralmente eles são iguais em termos de força e, portanto, se anulam. Característica desta faixa, é a calmaria total e muito calor. Entretanto, tínhamos que ser cuidadosos, colocar a proa mais para oeste, nos dava uma navegação mais confortável, porém corríamos o risco de entrar na correnteza que leva ao Caribe. Não era o que queríamos, não naquele momento. Neste trecho, fomos mais uma vez surpreendidos: não pela calmaria, mas pela presença constante dos ventos. Muito bom. Só o mar que engrossou um pouco e nos fez balançar bastante por aproximadamente 48 horas. Foi neste trecho também, que encontramos boiando pelo mar o objeto mais bizarro de toda a viagem: uma geladeira !!! Bizarro por estar ali, no meio do mar !!!

A passagem pela Linha do Equador, a linha imaginária responsável pela divisão do globo em dois hemisférios: Norte e Sul, aconteceu exatamente as 06:05h no nono dia da travessia. Preparamos uma festa para Netuno: dividimos com ele uma crostata italiana deliciosa e um champagne. As seis da manhã !!! Acho que ele gostou. Depois disso, o mar se acalmou. A tradicional garrafa também foi lançada ao mar... agradecimentos, pedidos, oferendas, ofertas e nosso endereço eletrônico. Esperamos, de coração, que ela seja levada para uma praia e que quem a encontre faça contato conosco. Estávamos mais do que felizes... tínhamos chegado ao hemisfério Sul. Ainda falta muito para chegar em casa, precisamos chegar na latitude 26° e estamos navegando dentro da primeira. Chegaremos lá !!!

Dez dias no mar... a sensação era de já estar em casa. Faltava muito pouco agora. Chegamos em Noronha exatamente a 01:15h do dia 16 de dezembro. 10 dias, 18 horas e 15 minutos. Foram 1.340 mn percorridas em 258 horas e 15 minutos, navegando a uma velocidade média de 5.2 nós, 95% do tempo a vela.  


O gigante tinha ficado para trás !!!